segunda-feira, outubro 19, 2009

O PODER DA RECAPITULAÇÃO

"O poder da recapitulação", disse don Juan, "é que ela agita todo o lixo de nossas vidas e o faz emergir."
.
"Sem que soubessem, o mar escuro da consciência tomava a consciência em forma de suas experiências de vida, mas não tocava em sua força vital no caso daqueles feiticeiros que recapitularam suas vidas do modo mais completo possível. Os feiticeiros descobriram uma verdade gigantesca com relação às forças do universo: o mar escuro da consciência quer apenas a nossa experiência de vida, não a nossa força vital."

"Os feiticeiros acreditam", continuou don Juan, "que ao recapitular nossas vidas, tudo o que foi decantado para o fundo, como disse para você, vem à superfície. Nós percebemos nossas contradições, nossas repetições, mas algo em nós aciona uma tremenda resistência em recapitular. Os feiticeiros dizem que a estrada fica livre apenas depois de esforços tremendos, depois de uma gigantesca convulsão, depois do aparecimento na tela de nossa memória de um evento que faz tremer nossas bases com terrível claridade de detalhes. É o evento que nos arrasta ao momento real em que nós o vivemos. Os feiticeiros chamam esse evento de o condutor, porque a partir daí cada evento que tocamos será revivido, não meramente relembrado."

Carlos Castaneda, O Lado Ativo do Infinito.

Este tema da recapitulação vale a pena ser comentado, é um dos pilares do processo apontado pelo xamanismo guerreiro e por outros caminhos também.

É fato que todos recapitulamos ao morrer.

O mar escuro de consciência, a fonte que nos doou a consciência ao final da existência toma de volta para si tal consciência, que se dilui no vasto mar, nele diluindo o teor de nossas experiências, metabolizadas pelo processo de estarmos vivos e percebermos.

Ao final da existência o ponto de aglutinação, a percepção, tudo que somos, pois o resto é emprestado, passa por todas as experiências de vida que tivemos, não é um recordar mental, é um viver de novo mesmo, algumas pessoas que quase morreram e voltaram falam desse "passar da vida".

Por isso os videntes toltecas desenvolveram a técnica de viver neste mundo em consciência intensificada e ir a muitos mundos, não humanos principalmente, se lançar as vastidões do infinito e retornar a esta terra, este tempo onde temos nossas vidas.

Imaginem onde um(a) Xamã pleno como os que ensinaram o nagual de 3 partes não iam?

E voltavam, viviam ali, na casa do México por exemplo onde faziam seus piqueniques, onde D. Juan Matus cozinhava rabadas apimentadas para deleite de todos.

Esse ir a extremos da segunda atenção e voltar tem um porquê.

Nossos ancestrais espirituais foram, e foram e foram, alguns tão indo ainda, mas isto se revelou uma armadilha. Eles pensavam que o nagual, a segunda atenção fosse algo como hoje se pensa em plano espiritual, algo que vai subindo, ficando mais "puro", mais "pleno".

Os(as) novos(as) videntes resolveram essa armadilha, perceberam que a segunda atenção é só a contraparte da primeira, vasta, muito mais vasta, mas apenas uma contraparte, ir-se por ela é apenas adiar um fim, não vencê-lo.

Descobriram outra possibilidade.

O vasto mar da consciência quer de volta apenas a consciência, que é sua de fato, mas nada quer com a força da vida que temos.

Esta descoberta mudou tudo. A força da vida não precisa se dissipar, apenas a consciência. E treinando guerreiramente os(as) nuevos videntes fizeram algo impensado, além de toda possibilidade de compreensão, mas possível de realização.

O ente perceptivo ao morrer abre mão da consciência. Ao passar por todas as experiências de vida o ponto de aglutinação libera uma tremenda energia pois, ao contrário dos caminhos antigos, os(as) nuevos videntes não foram progressivamente a outras realidades, ascendendo uma fibra de cada vez.

Foram aleatoriamente a muitas realidades, imaginem a cena de uma bexiga transparente, cheia de fibras óticas. Um ponto de luz sai de um feixe aceso e vai acendendo os outros, dos mais distantes aos mais próximos.

Isso libera um tipo de energia estupendo, essa energia, se for usada com intento permite a quem isso faz dar um salto em direção a outro estado, abandonamos a primeira e a segunda atenção, mas absorvemos uma "terceira atenção", estado que só cito prá dizer que existe e já é muito.

Este caminho faz com que os(as) Xamãs Guerreiros(as) tenham práticas que lhe permitam chegar a este objetivo.

O ente perceptivo que somos pode se "individualizar".

Podemos ser nós mesmos, podemos ser mais do que "fizeram de nós". Para os(as) Xamãs Guerreiros(as), muitas linhagens, taoistas, hinduístas, sufis, budistas, o ser humano existe para cumprir um papel dentro de um amplo esquema cósmico.

Não fomos "criados a imagem e semelhança de deus para reinar sobre a criação".

Tais histórias atestam a necessidade humana de fugir da constatação do nada que somos. Somos como enzimas, cumprimos um papel na existência e voltamos pro "caldão" de onde viemos.

Isso se tudo for seguir o caminho "natural".

Mas é neste nada que os(as) xamãs guerreiros encontraram poder para ir além, pois se tão infímos somos podemos mesmo escapar deste intento primeiro da realidade e astutamente nos esgueirarmos pelos mundos, alcançando um estado que metaforicamente chamamos de "liberdade total".

Para realizar este desafio supremo precisamos de muita energia, antes de mais nada. E esta energia tão necessária, durante a vida, foi sendo perdida pelos atos, nas pessoas e vivências que tivemos.

Deixamos pedaços nossos em pessoas, situações, em cenas, lugares e estes pedaços de energia que ficaram nos fazem falta, pois só com toda nossa TOTALIDADE podemos desafiar os designios primeiros da FONTE, da ÁGUIA e "como um jato, passar além de seu bico, livres, rumo a LIBERDADE.

Esse sonho já foi sonhado antes, isso o torna realizável.

Recapitular é um exercício para recuperar esta energia, estes pedaços de nós que fomos sem saber, deixando pela estrada de nossa vida.

Os budistas de várias linhagem o realizam, taoístas, sufis, muitas tradições trabalham com esse recapitular da vida.

Por quê?

Para quê?

Como? O que é recapitular?

É antes de mais nada lembrar, lembrar de um evento que aconteceu, começa assim, então não para aí, se nos colocamos na atitude coerente desse momento, se estamos focados nesse momento com o devido "intento" algo em nós é afetado e nosso ponto de aglutinação, isto é, nossa percepção, é deslocada para o "momentum" energético onde aquele fato recapitulado aconteceu.

Todos os fatos da vida devem ser recapitulados, por isso se diz que a recapitulação dura a vida inteira, temos sempre camadas mais profundas para recapitular.

Recapitulando descobri que vivemos em várias dimensões ao mesmo tempo, temos múltiplas vidas e mesmo nessa vida aqui e agora nós só lembramos de uma camada superficial do mundo, recapitular nos dá energia, nos devolve a energia.

Nossas possibilidades existenciais são incríveis, posso citar apenas o exemplo de uma mulher do grupo de D. Juan MAtus que sonhando trazia para este mundo Esperanza, uma curandeira, e o Zelador, intelectual simpático que cuidava de uma das casas do grupo.

Esses mistérios são pertubadores, fascinantes, somos magia num grau impensado e ficamos aqui nestas percepções tolas e limitadas de mundo, acreditando mesmo que é a bolsa de valores, a seleção brasileira, a alta do dolar que importa.

Presos a uma mídia que serve ao conquistador e por isso oblitera nossa percepção, ficamos sendo alimentados com lixo cultural e embotados em nossa realidade existencial.

Noticia é a tragédia, a violência, meios sutis de aumentar o medo, pois sabem que se te mantiverem com medo do que está a tua volta tu não questionará o sistema que lhe escraviza.

E cada dia surge um novo processo contra o bode expiatório da vez para que não vejamos nosso país sendo entregue aos sempre vorazes mercantilistas, a companhia das indias ocidentais do momento.

Vivemos neste contexto histórico e deixamos nossa energia neste mundo, ele é mantido também com nossa energia, cada vez que assistimos a um programa de TV, cada vez que lemos jornais, que comentamos sobre esses assuntos. Não são apenas nossos impostos, cobrados em cada bala, em cada cafezinho que tomamos, que sustentam esse sistema. Nós o sustentamos com a força de nossa intenção e nossa energia, toda nossa vida desde que nascemos, tem sido sustentar esta realidade, que nos anula, mas nos mantém como galinhas em granja, alimentado-nos, e aí botamos nossos ovos, para logo nos abater.

Recapitular, portanto, é também uma atitude da Tribo do Arco Íris em sua luta pacífica e silenciosa pela retomada dos direitos de nossos ancestrais, de outra abordagem da realidade.

Quando tiramos a energia dos eventos passados e deixamos apenas a que ele tinha estamos também tirando a energia desses eventos que ficou impregnada em nós.

Só assim podemos mudar nossa percepção da realidade, do contrário será apenas uma mudança intelectual. Porque em cada interação que temos deixamos energia nossa e levamos a energia do lugar, das pessoas, de tudo que ali ocorreu. E sabemos que percebemos uma vastidão da qual só registramos a mínima parte.

Quando recapitulamos vamos tirando a energia que ficou e devolvendo a que ficou impregnada em nós, isto é, vamos resgatando nossa energia singular.

Isso amplia nosso poder pessoal.

Vai além, revendo os eventos de nossa vida aprendemos a reconhecer "o que fizeram de nós" e podemos ir além desse estado e sermos "eu mesmo", ser singular, único, que só existirá nesta efêmera mas bela existência por um curto tempo.

E, se vamos existir por tão curto tempo, com a morte sempre há um braço de distância à esquerda, como não viver intensamente cada momento, presente, pleno(a), como seguir dividido(a), fragmentado(a)?

Temos em nós tudo que precisamos para essa fantástica jornada que é viver.Por falta de saber perdemos nossa energia, perdemos nossa força da vida e deixamos pedaços de nós com pessoas, eventos, lugares.

A recapitulação é mais que lembrar, começa assim, mas não é uma revisão psicanálitica.

Pela magia da respiração damos uma dimensão extra a esse exercício.

A prática usual recomenda escrever uma lista com as pessoas que conhecemos, todas.

Depois dessa fase o ideal é sentar-se em um lugar calmo, com o mínimo de interferências externas.

Reduzir as influências externas é muito importante para uma real recapitulação, recebemos muitas "impressões" das coisas a nossa volta.

Florinda Matus fez sua recapitulação em um caixote construído ao seu redor.

Certa vez morei, em Sampa, numa casa que tinha uma escada e em baixo dela fizeram um armário.

O armário não tinha prateleiras. Durante anos usei aquele armário para recapitular. Eu trabalhava a noite e durante o dia ficava só em casa, as pessoas que moravam comigo trabalhavam de dia, assim tinha silêncio durante a tarde e recolhimento.

Comento isso porque me parece que essas condições são muito importantes, a qualidade da recapitulação sofre influências desses dados. Taisha recapitulou numa caverna. Este dado de estar num ambiente mais restrito focaliza energias da pele que em outras estâncias estariam sendo "tocadas" por vibrações sutis, que podemos não perceber conscientemente mas estão de fato em ação.

Além de um lugar adequado a recapitulação pode ser fortalecida por passes mágicos para a recapitulação que quem faz Tensegridade pode partilhar com quem não faz.

No Shün que é a Arte do Movimento que pratico antes de fazer a "limpeza do poço", como seria a tradução do nome que damos a essa prática, existem movimentos que são feitos.

Vou sintetizá-los para ajudar quem não tem acesso a grupos dessas práticas como:

Primeiro espreguiçar bem, muito, mexer boca, olhos, puxar o corpo todo pelos dedos, sentir os dedos dos pés e mãos.

Depois, "acordar o corpo" que é com os joelhos meio flexionados, braços a frente com as mãos em garras, pés alinhados com ombros e tensionar o corpo inteiro, tensionar mesmo, ir expirando, contraindo o abdomem e tensionando até ficar alguns instantes sem ar e todo tenso, então se soltar, dar uns pulos e sacudir braços, mãos e pernas como se estivesse saindo de uma piscina e tirando a água do corpo.

Então sentar numa cadeira ou chão e o corpo tá pronto pra recapitular.

Costas eretas, pode se encostar numa parede ou apoio para as costas, olhando para frente, solta todo o ar, até sentir-se vazio. Então vira a cabeça toda pra esquerda, queixo no ombro esquerdo. Faz uma respiração vazia, isto é, vira a cabeça até o ombro direito mas sem respirar, vazio. Depois inspira indo pra esquerda e expira indo pra direita.

Intente que a inspiração absorve toda tua energia que está na cena e a expiração devolve toda energia da cena que ficou em ti.

Então vá deixando a lembrança fluir, sinta-se na cena, mas não julge, apenas observe. Julgar, lamentar-se são formas de prender-se, de anular o valor da prática.

O importante é ir a cena e observar com foco o ocorrido, deixa que o aprendizado venha, não crie interpretações mentais do tipo: "agora vou agir assim ou assado", "a partir de hoje vou ser assim" estas propostas são respostas da mente desequilibrada que temos em nós, é "o que fizeram de nós" não querendo perder o controle e jogando como sempre aprendeu: "agora serei a criança boazinha e farei tudo direito para agradar a todos e ao papai do céu!"

O trabalho aqui é observar com neutralidade e recuperar a energia perdida, deixando ali a que ficou impregnada em nós.

Podemos usar a recapitulação como o tremendo instrumental que é para nos livrar de tudo que não somos, que apenas impuseram a nós.

Há várias dicas, fazer uma lista com todos os eventos da vida, tem muita informação sobre técnicas por aí, basta pesquisar.

Uma prática muito válida é lembrar do dia todo ao deitar-se para dormir. Eu pratico ir lembrando do momento que sentei para relembrar, já indo dormir, voltando cena a cena até chegar na hora de manhã que abri os olhos.

Esta prática diária tem várias resultantes, dá pra gente antes de mais nada um dimensionamento de como tem horas durante o dia que estamos "no piloto automático" ausentes de nós mesmos.

São instrumentais de guerra, a guerra contra os limites em nossa busca de liberdade.

Um(a) xamã guerreiro (a) da liberdade total luta este tipo de batalha, estes são nossos treinos de combate.

Nuvem que passa - Extraído do Pistas do Caminho

quinta-feira, outubro 08, 2009

A VINDA DO CRISTO CÓSMICO
A Cura da Mãe Terra e o Surgimento de uma Renascença Planetária*
O Significado etimológico de religião é “religar-nos” as nossas origens. Crentes religiosos e todos os cidadãos de nosso planeta precisam ouvir o amplo e impressionante mistério da história científica de nossas origens. O arquétipo do Cristo Cósmico incentiva-nos a venerar nossas origens de maneira que seria impossível para o paradigma religioso antropocêntrico da era do Iluminismo. Encoraja-nos, também, a venerar nossa divindade e nossa responsabilidade como co-criadores de maneira impossível para o paradigma do Iluminismo. Conforme coloca Meister Eckhart, “conquanto sejamos filhos e filhas de Deus, ainda não nos demos conta disso.”

Este livro inicia-se com um sonho e termina com uma visão. Tive o sonho no dia 15 de março de 1986. Foi um sonho sobre a devastação que nosso planeta vem suportando devido à ausência de uma cosmologia viva. Chamo essa devastação de “matricídio”, ou extermínio da mãe, pois assim me foi dito no sonho.

(...) Os riscos a que estão expostos a Mãe Terra e nossos filhos não serão reduzidos sem a participação de nossa herança espiritual na batalha. “Combata os piores com os melhores”, aconselha o fazendeiro/poeta/profeta Wendell Berry. Na conferência da Academia Nacional de Ciências, em 1986, analisando a extinção em massa de plantas e animais em nosso planeta, Paul R. Ehrlich, da Universidade de Stanford, declarou: “A análise científica aponta, curiosamente, para a necessidade de uma transformação quase-religiosa das culturas contemporâneas”.
.
(...) Não apenas na religião, mas todos os níveis de cultura precisam unir-se na luta, como mostra o escritor Harold Gilliam em sua palestra “Situação do Mundo”. Isto não se realizará sem um salto quântico na educação pública e na pressão pública sobre os líderes, para que estes ajam no sentido de preservar o habitat global. Este não é o tipo de entendimento que possa surgir em um computador. Ele só pode ser gerado pela mídia convencional – incluindo a imprensa, o púlpito, o rádio e a televisão – e pelas escolas, as quais, com poucas exceções, estão realizando o trabalho lamentável de dar aos nossos jovens a visão da atual degradação do único planeta que temos. Quando uma civilização não possui uma cosmologia, ela não é apenas cosmicamente violenta, mas cosmicamente solitária e deprimida. É possível que a verdadeira causa das drogas, do álcool e dos hábitos de entretenimento que assolam nossa sociedade não resida exatamente nos “reis das drogas” de outras sociedades, mas na solidão cósmica que persegue a nossa própria sociedade? Talvez o álcool seja uma cosmologia líquida e as drogas uma cosmologia rapidamente assimilável para pessoas desprovidas de uma verdadeira cosmologia. Observadora perspicaz da natureza humana de nossa época, a psiquiatra Alice Miller compreende o contrário da depressão não como júbilo, mas como vitalidade. Qual a nossa vitalidade nos dias de hoje? E qual a vitalidade de nossas instituições de culto, educação, política, economia? É possível que toda a nossa civilização esteja deprimida porque nos falta a perspectiva do Cristo Cósmico?

(...) A morte da Mãe Terra (matricídio) e a ressurreição da psique humana (misticismo) e o advento do Cristo Cósmico (uma cosmologia viva) designam o mistério do ciclo divino de morte, renascimento e envio do Espírito em nosso tempo. Se a raça humana voltasse a crer neste mistério, certamente ocorreria um renascimento.

(...) Os profetas e os eruditos da antiga Israel, juntamente com os profetas de outras religiões, incluindo os nativos da América, não desconhecem o Cristo Cósmico (ou Sabedoria Cósmica) que existe entre nós.

(...) De que maneira a devastação da terra chega ao fim? Através da metanóia, uma transformação no coração (...) Essa parte corresponde a esse despertar do conhecimento do coração e à entrada na escuridão que é chamada de misticismo. Com essa ruptura o dia de Javé – dia de compaixão e justiça, de cura e celebração – pode acontecer verdadeiramente.
“A prece é Atendida, O Deus Criador Envia o Espírito Santo para Curar.”

(...) O despertar místico que prenuncia uma cura global é apresentado como despertar cósmico, um despertar para uma cosmologia viva, pra um Cristo Cósmico vivo e vital em todas as criaturas e em todos os seres humanos – jovens e idosos, escravos e livres, homens e mulheres. O espírito messiânico é apresentado como não-elitista – ele será derramado sobre todos os tipos de pessoas
.
(...) Prognostico um renascimento, “renascimento baseado em uma iniciativa espiritual”, para utilizar do historiador M.D. Chenu, como resultado do transbordamento do Espírito. Este novo nascimento penetrará todas as culturas e religiões e na verdade estimulará a sabedoria comum a todas as tradições místicas vivas e realizará um despertar religioso global a que chamarei de “ecumenismo profundo”.

(...) Neste livro invoco um novo Pentecostes, o advento do espírito messiânico para toda a raça humana e todas as suas religiões e culturas. Mas invoco também a penitência, uma autocrítica e abandono profundos e radicais entre meu próprio povo, isto é, entre os cristãos europeus e oriundos da Europa. Precisamos abandonar o Iluminismo e a sua visão de mundo, que renegam o misticismo e a que faltam uma cosmologia. Precisamos abandonar uma visão de mundo religiosa que aborrece os jovens, trivializa Jesus Cristo e torna nossa herança espiritual praticamente impotente. O cientista e místico Gregory Bateson observou que “perdemos a essência do Cristianismo”. Eu concordo, pois a essência deve ser uma cosmologia vital e viva, um misticismo cosmológico, um Cristo Cósmico. Nenhum livro escrito por mim abalou-me mais do que este, pois aprendi, durante o processo de sua criação, como nós, ocidentais, fomos ludibriados e excluídos durante uma era religiosa a que faltava uma cosmologia, perdendo todo contato com o Cristo Cósmico. Como demonstro na parte III, não é possível ler os Evangelhos corretamente sem uma cosmologia viva; no entanto, é isso que nossos teólogos e líderes espirituais têm feito ao longo dos séculos. Fazer penitência por este pecado de omissão por parte da religião significa que devemos abandonar o antigo paradigma e comprometermo-nos vigorosamente com esse paradigma mais novo, conquanto muito mais antigo. O que significa que a teologia do Cristo Cósmico – ignorada durante séculos – deve ser seriamente reconsiderada hoje.

A penitência por mim exigida não é simplesmente uma metanóia individual ou “transformação do coração.” O Espírito é Aquele que “torna todas as coisas novas” e a renovação que anseio ver é a renovação das próprias igrejas. Para que isto aconteça, as igrejas têm de confessar seus pecados, implorar o perdão, ser esvaziadas, abandonadas e começar mais uma vez com o paradigma novo mas muito antigo do Cristo Cósmico.

As igrejas precisam implorar o perdão dos povos nativos cuja noção do Cristo Cósmico jamais se perdeu; o perdão dos amantes que não foram informados do misticismo sexual celebrado pelo Cântico dos Cânticos; o perdão dos jovens que continuam a ser vítimas de adultismo em mãos de tantas instituições ocidentais, incluindo as religiosas; o perdão dos artistas e do ator criativo que existe em todo adulto; o perdão das mulheres e de outras pessoas lesadas em sua herança espiritual em uma era religiosa anticósmica e antimística. Uma vez que as igrejas se ajoelhem e peçam perdão, elas deverão se erguer rapidamente e começar a contribuir para o renascimento de que o planeta necessita tão desesperadamente. Elas deverão conduzir a adoração revitalizada e o compromisso revitalizado com o ecumenismo profundo, proveniente de uma moralidade de reverência por toda a criação, que por sua vez nasceu de um despertar místico para a admiração, assombro e “estupefação radical” (frase do rabino Abraham Heschel) ante nossa existência.

Wendell Berry afirma sensatamente: “Talvez o grande desastre da história humana seja aquele ocorrido à religião ou dentro dela, qual seja, a divisão conceitual entre o sagrado e o mundano, o afastamento do Criador e sua criação. O misticismo representa a cura para esse dualismo religioso, contudo, o misticismo tem sido ignorado pela maioria dos ensinamentos e líderes teológicos judaicos, católico-romanos e protestantes. Este livro procura oferecer uma maneira de curar o dualismo entre ciência e religião, alma e cosmos, psique e espírito, justiça e celebração, teologia e misticismo, Deus e nós.

Se minha tese de que é chegado o momento de passar a busca do Jesus histórico para a busca do Cristo Cósmico estiver correta, isto ajudaria a dissipar a religião distorcida e o movimento pseudo-místico de nossa época, popularmente conhecido como fundamentalismo e chamado às vezes de cristofacismo. Os teólogos do Iluminismo – também chamados de “liberais” – são incapazes de lidar com uma cosmologia, pois devem mais a Newton, Kant e Descartes do que aos autores dos Evangelhos do século I, os quais acreditavam em uma cosmologia viva e em um Cristo Cósmico. Um dos resultados é que o livro mais escatológico da Bíblia – O Livro da Revelação (Apocalipse de São João) – tem sido deixado para os fundamentalistas à direita e os marxistas seculares à esquerda. A confusão dos teólogos do Iluminismo no que se refere à questão da ressurreição e ao túmulo vazio deve-se à ausência da cosmologia. Neste livro reivindico a demolição da religião liberal e o restabelecimento da fé em uma visão de mundo cosmológica, profética e mística – uma transformação e renovação, não apenas uma correção ou reordenamento de uma agenda extenuada. O despertar religioso radical que mereça ser chamado de renascimento espiritual é aquele que critica tanto a psique (misticismo) quanto a sociedade (justiça e profecia). E que faz o que prega.
.
O advento do Jesus histórico e do Cristo Cósmico afinal tornará o Cristianismo integral. O Cristianismo tem mantido inalcançável sua “essência”, seu centro, sua noção de prática mística e consciência cósmica. Ele sucumbiu a uma mentalidade patriarcal que tem corroído sua adoração, sua mensagem e sua identidade, tornando-as estagnadas e sem vida, quase tão extenuada e deprimida quanto nossa civilização. O Cristianismo precisa do tipo de sonhos e visões prometidos em abundância na era messiânica, pelo profeta Joel. Ele precisa do tipo de renovação com que João XXIII sonhava ao iniciar sua revolução no Vaticano, na década de 1960. Talvez um novo “concílio ecumênico” esteja por vir proximamente. Seria profundamente ecumênico e convocaria a sabedoria de todas as religiões do mundo.

(...) Que criatura ousaria rejeitar sua condição de diamante imortal? Uma bênção original? Uma imagem do Ente Divino? Sei, por experiência própria, que apenas a espécie humana se atreve a negar sua divindade, se atreve a negar o Cristo Cósmico. É chegado o momento, nas palavras de Meister Eckhart, de “negar a negação” (ME, 40). Se a própria religião não consegue mostrar o caminho nessa negação da negação do Cristo Cósmico, nessa ressureição, ascenção e envio do Espírito para a Mãe Terra por meio da ressureição da humanidade, neste caso estamos realmente com sérios problemas. Neste sentido, submeto abertamente este livro aos pensadores e líderes religiosos como julgamento não de ortodoxia, mas de ortopraxia. A que espécie de trabalho e ações conduz a convicção no Cristo Cósmico?

(...) O tempo está escoando rapidamente para a Mãe Terra e a madre igreja. Gregory Bateson coloca esta questão oportuna para a igreja e a sinagoga: “A raça humana está deteriorando a sua mente a partir de uma religião em lenta deterioração?” Creio que uma religião em lenta deterioração é aquela que ignora ou esquece suas próprias origens fudamentais; que subestima a capacidade humana para o mal – em nossa época, a capacidade de o homem destruir a Mãe Terra e seus filhos; que não consegue sanar os dualismos e, na verdade, os incentiva; que entedia os jovens; que aviva o fogo dos bodes expiatórios e estimula o pecado da projeção; que não pode admitir seus próprios fracassos e erros; que se sente impotente diante dos poderes e principados da sociedade; que não consegue celebrar e ensinar as pessoas a celebrar; que substitui a moralização pelo misticismo; que não possui uma cosmologia nem interesse pela cosmologia; que denigre os esforços da ciência para adquirir conhecimentos sobre a criação; que ignora o artista; que comete adultismo, sexismo ou antropocentrismo; que condena seus próprios profetas; que aliena os anawin, sejam eles mulheres, homossexuais, pobres ou iletrados; que diminui o culto às palavras; que não oferece perspectivas a uma sociedade exausta; que não consegue estimular a criança nos adultos e jovens; que não consegue desafiar o confortável. Se Jung está correto quando afirma que “apenas os místicos levam a criatividade para a religião, a única maneira de a religião resistir à decomposição consiste em abrir mais uma vez seu coração e suas concepções teológicas para o místico.

Que o Cristo Cósmico possa redimir-nos de uma religião desprovida de misticismo e insensata. Que o Cristo Cósmico possa conduzir-nos para um século mais saudável – e menos racional. Que o Cristo Cósmico abençoe a todos nós, para que possamos abençoar e não crucificar a Mãe Terra e as gerações vindouras.
.
* Para mim foi um (re)"encontro místico de almas e ideais", pois, inconscientemente já vinha compartilhando algumas idéias que muito se afinizam com alguns princípios de Fox. Uma "espiritualidade mais ecológica", um "re-ligare" mais profundo, místico, direto e mais real. Um propósito mais Xamânico e verdadeiramente cristão, entendo eu. Trago a todos os "irmãos em caminhada" a transcrição de algumas partes do primeiro capítulo deste precioso livro de Matthew Fox, que é Padre da Igreja Anglicana, conviveu e muito aprendeu com os nativos indígenas. Vejam em seus agradecimentos no livro: "Uma nota de apreço também para os dançarinos do Sundance [tradicional e sagrada dança-ritual indígena norte-americana], em Rosebud Reservation, agosto de 1987, cujos ordálios fazem deste planeta um lugar mais sagrado para todos nós. (Comentários por Hugo Acauã)

Matthew Fox, A Vinda do Cristo Cósmico – A Cura da Mãe Terra e o Surgimento de uma Renascença Planetária. Record: Nova Era.

terça-feira, outubro 06, 2009

INTELIGÊNCIA ESPIRITUAL - Drª Dana Zohar - Oxford
No livro QS - Inteligência Espiritual, lançado no ano passado, a fí­sica e filósofa americana Dana Zohar aborda um tema tão novo quanto polêmico: a existência de um terceiro tipo de inteligência que aumenta os horizontes das pessoas, torna-as mais criativas e se manifesta em sua necessidade de encontrar um significado para a vida. Ela baseia seu trabalho sobre Quociente Espiritual (QS) em pesquisas só há pouco divulgadas de cientistas de várias partes do mundo que descobriram o que está sendo chamado "Ponto de Deus" no cérebro, uma área que seria responsável pelas experiências espirituais das pessoas. O assunto é tão atual que foi abordado em recentes reportagens de capa pelas revistas americanas Neewsweek e Fortune.
.
Afirma Dana: "A inteligência espiritual coletiva é baixa na sociedade moderna. Vivemos numa cultura espiritualmente estúpida, mas podemos agir para elevar nosso quociente espiritual". Aos 57 anos, Dana vive em Inglaterra com o marido, o psiquiatra Ian Marshall, co-autor do livro, e com dois filhos adolescentes. Formada em fí­sica pela Universidade de Harvard, com pós-graduação no Massachusetts Institute of Tecnology (MIT), ela atualmente leciona na universidade inglesa de Oxford. É autora de outros oito livros, entre eles, O Ser Quântico e A Sociedade Quântica, já traduzidos para português. QS - Inteligência Espiritual já foi editado em 27 idiomas, incluindo o português (no Brasil, pela Record).
.
Dana tem sido procurada por grandes companhias interessadas em desenvolver o quociente espiritual de seus funcionários e dar mais sentido ao seu trabalho. Ela falou à EXAME em Porto Alegre durante o 300º Congresso Mundial de Treinamento e Desenvolvimento da International Federation of Training and Development Organization (IFTDO), organização fundada na Suécia, em 1971, que representa 1 milhão de especialistas em treinamento em todo o mundo. Eis os principais trechos da entrevista:
.
O que é inteligência espiritual?
.
É uma terceira inteligência, que coloca nossos atos e experiências num contexto mais amplo de sentido e valor, tornando-os mais efetivos. Ter alto quociente espiritual (QS) implica ser capaz de usar o espiritual para ter uma vida mais rica e mais cheia de sentido, adequado senso de finalidade e direcção pessoal. O QS aumenta nossos horizontes e nos torna mais criativos.É uma inteligência que nos impulsiona. É com ela que abordamos e solucionamos problemas de sentido e valor. O QS está ligado à necessidade humana de ter propósito na vida. É ele que usamos para desenvolver valores éticos e crenças que vão nortear nossas ações.
.
De que modo essas pesquisas confirmam suas idéias sobre a terceira inteligência?
.
Os cientistas descobriram que temos um "Ponto de Deus" no cérebro, uma área nos lobos temporais que nos faz buscar um significado e valores para nossas vidas. É uma área ligada à experência espiritual. Tudo que influencia a inteligência passa pelo cérebro e seus prolongamentos neurais. Um tipo de organização neural permite ao homem realizar um pensamento racional, lógico. Dá a ele seu QI, ou inteligência intelectual. Outro tipo permite realizar o pensamento associativo, afetado por hábitos, reconhecedor de padrões, emotivo. É o responsável pelo QE, ou inteligência emocional. Um terceiro tipo permite o pensamento criativo, capaz de insights, formulador e revogador de regras. É o pensamento com que se formulam e se transformam os tipos anteriores de pensamento. Esse tipo lhe dá o QS, ou inteligência espiritual.
.
Qual a diferença entre QE e QS?
.
É o poder transformador. A inteligência emocional me permite julgar em que situação eu me encontro e me comportar apropriadamente dentro dos limites da situação. A inteligência espiritual me permite perguntar se quero estar nessa situação particular. Implica trabalhar com os limites da situação. Daniel Goleman, o teórico do Quociente Emocional, fala das emoções. Inteligência espiritual fala da alma. O quociente espiritual tem a ver com o que algo significa para mim, e não apenas como as coisas afetam minha emoção e como eu reajo a isso. A espiritualidade sempre esteve presente na história da humanidade. No iní­cio do século 20, o QI era a medida definitiva da inteligência humana. Só em meados da década de 90, a descoberta da inteligência emocional mostrou que não bastava o sujeito ser um gênio se não soubesse lidar com as emoções. A ciência começa o novo milênio com descobertas que apontam para um terceiro quociente, o da inteligência espiritual. Ela nos ajudaria a lidar com questões essenciais e pode ser a chave para uma nova era no mundo dos negócios. Dana Zohar identificou dez qualidades comuns às pessoas espiritualmente inteligentes. Segundo ela, essas pessoas:

1. Praticam e estimulam o autoconhecimento profundo;
2. São levadas por valores. São idealistas;
3. Têm capacidade de encarar e utilizar a adversidade;
4. São holísticas;
5. Celebram a diversidade;
6. Têm independência;
7. Perguntam sempre "por quê?";
8. Têm capacidade de colocar as coisas num contexto mais amplo;
9. Têm espontaneidade;
10.Têm compaixão.

Matéria postada por Tatyana Menkaiká na lista "Terra Mística"